Entre vidas e morfina

 Na rua Joãozinho do bairro Villa Nobre, havia uma casa que pertencia à mesma família a gerações; homens e mulheres, quando vivos estiverem por lá, esfregaram seus pés nos capachos e surravam as cortinas espessas para fora da janela quando era verão, porém os atuais residentes quase nem se preocupavam com a hereditariedade daquele património. Ricardo era bancário no Banco do Brasil, saia todas as manhãs. Depois de ter tomado seu café matinal, e ia direto para o banco. Era um homem duro, com uma história de vida dura, vindo do sertão nordestino aprendera a se adaptar e enfim arrumou um bom emprego. Se existe um sonho nacional igual ao sonho americano, era isso que ele vivia.


Seu cafés e suas refeições eram preparadas por Roberta, sua esposa. Ela era dona de casa; costumava-se a dizer que esse feitio era chamado de do lar. Por todavia, ela não vivia às custas do marido, aos fins de semana ela gerenciava uma livraria, aquela que ela havia construído uns dez anos atrás, pode se dizer que ela era parcialmente uma patroa muito boa. Ouvia e se dava bem com os funcionários. Um exemplo de mulher, se é que podemos levar em consideração essa palavra elitista, “exemplar”, essa palavra realmente me causa repulsa.


E por fim, o último membro da família a se apresentar era Isabel, uma moça de características faciais extremamente agradáveis, dotada de muitos talentos, alguns deles eram socialmente úteis, como bordar, escrever, e ser uma grande apreciadora de artes, ela era perfeita em todos os sentidos, fora instruída por seu pai para ser uma pensadora livre, seja isso que queira dizer. Ela lia por horas e horas, clássicos como Frankenstein de Mary Shelley, Moby Dick de Melville, e as emocionantes aventuras de Júlio Verne. Todos os rapazes do bairro apresentavam certo interesse nela, porém ela já estava comprometida.


Seu noivo Fábio, era comerciante. Na verdade ele era filho de comerciantes. Ricos. Não preciso me alongar perante o assunto, porém posso alegar que o relacionamentos entre eles não estava envolvido de forma alguma interesse por dinheiro, Fábio havia ido tratar de uma das filiais de seu pai no interior, e foi com uma bagagem para passar alguns anos hospedado na casa de seus tios, que moravam na região. E quando regressasse, ele e ela consumariam a união. Eram noivos apenas.


Passado algum tempo, ou melhor, alguns anos, Isabel ia de encontro com sua mãe, que estava na livraria, estava indo buscar um livro que seu médico indicou, O Grande Gatsby de Fitzgerald, a distância não era grande, umas duas quadras e já se encontrava na avenida principal, local da livraria da família. Encontrou com sua mãe e perguntou pelo livro, não tinha no estoque e Isabel voltou chateada para casa, não estava chateada, estava apenas desapontada, mas pensou em regressar para casa.


No caminho de volta havia uma figura estranha sentada no degrau da porta de sua casa, a medida que se aproximava a figura ficava mais nítida. Se aproximou mais um pouco e pode então distinguir uma mulher. Tentando transpassar segurança Isabel caminhou em direção a ela, então e mulher a cumprimentou:


-Boa tarde! Sou Verônica Carvalho!


A mulher se apresentou como sendo prima de seu noivo, Fábio. Não estava mal vestida, possuía um vestido roxo, luvas igualmente roxas e um chapéu com uma fita roxa. A moça com o nariz contraído, de forma a parecer que pisava em esterco continuou:


-Você deve ser Isabel, correto?


-Sim, e é um prazer conhecer uma pri…


-Tá certo, obviamente meu primo tem um ótimo gosto, podemos entrar?


- Ah sim, claro.


Abriu a porta e elas entraram, Limparam os pés no capacho e se sentaram à sala. Veronica depositou seu chapéu ao seu lado, e começou:


-Bel, vim aqui para lhe falar algo muito importante - e com um gesto com a mão interrompeu Isabel que ia começar a falar- sem demora, vou lhe contar. Não se case!


Aquilo foi um baque para a Bel. Como assim não se casar? Como assim não se unir ao homem que amava? Foi aterrador.


-Fábio me pediu em casamento, por conta do pecado que cometemos...nós nos amamos.


Aquilo ficou ainda mais indigesto, que pecado é esse para resultar em uma união matrimonial?


-NÓS FIZERMOS AMOR!


Neste ponto as paredes da sala se tornaram nítidas, o papel de parede com arranjos de flores, tudo aquilo a enjoava, seus sapatos a enjoavam, seu vestido a enjoava, seu corpo a enjoava, e começou de repente uma sensação de desconforto consigo mesma.


-Nós fizemos amor e foi maravilhoso, ele me beijava, me chupava e me possuía…


A vadia se prolonga no assunto, enquanto Isabel se enjoava e se revoltava.


-PARE! Pare por favor, por favor pare - e desabou em lágrimas. 


Chorou por horas e horas, a prima já se fora há tempos, será tudo uma alucinação? Não, Deus não. Essa dor a assolou quando alcançou a caixa em cima do armário superior. Estricnina. Letal. Mortal. Fatal. Tremia; seu corpo era um vulcão em erupção, ingeriu uma quantidade considerável e de novo a Morte levou em seus braços mais um apaixonado 


Comentários

Postagens mais visitadas