Sereia
Autor:Pedro Emmanuel
Bebendo algumas taças de vinho com ela pude perceber a
coloração roseada e suas bochechas, talvez um indicativo de vergonha por ter
contado uma história de sua infância, ou não, pode ser apenas um indicativo de embriaguez.
Estávamos ali a horas, só conversando, e o
interessante é que não me veio nenhum sentimento carnal, ou algum tesão
do tipo, era eu e ela era tão fácil conversar com ela. Sinto falta disso.
Já tinha ouvido isso de gente mais velha, quando era mais
novo. Quando minhas preocupações eram banais demais aos olhos adultos, mas aos
meus, eram o verdadeiro mundo real. É uma parada estilo Alice no Pais das
Maravilhas. Reflito meu passado com os olhos de criança. Uma maravilha. Sinto falta
de sentir isso.
Seus cabelos carmim se afloravam na luz do ambiente. As luzes
amareladas cobriam o teto. Comentei com ela algo sobre lâmpadas incandescentes,
corrente alternada e a morte de um elefante. Ela lamentou de coração. Falou
sobre Freud e a natureza dos sonhos e eu apenas prestava atenção como se
estivesse em aula..
Talvez eles estivessem certos, minha compreensão de mundo era totalmente
distorcida. Não que eu não acreditasse em valores morais, apenas não os
valorizava, o vazio reinava em meu peito e quase tudo era vazio de significado.
Isso fodeu minha mente, crises existenciais constantes, depressão profunda e
outras merdas. E quase sempre estava em um estado primitivo de vida, regado a
drogas, para escapar da frustrante realidade.
Até que ela foi embora pra sempre da minha vida, e como
quando eu era criança a existência de sereias provou-se real. Pelo menos me
diziam que “pra sempre”, queria dizer por muito tempo. Não que no meu caso
fosse diferente, durante muito tempo fiquei me martirizando por tê-la perdido
mas tive uma surpresa quando fui visitar a baia local de manhã. Destacava-se
uma figura feminina e seu cabelo carmim, no horizonte.
Taí...gostei .
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