Manhã de Natal
Autor: Pedro Emmanuel
Era manhã do dia 25 de dezembro,
fazia frio e a neblina estava ancorada na calçada principal da cidade. Um clima
de desesperança e horror dominava o coração do jovem Norberto. Na noite passada
passou por um terror jamais experimentado por ele. O que acalentava seu coração
era um porta retrato vazio, onde a foto havia se perdido.
Porém, para compreendermos melhor a situação de Norberto, permitam-me que eu os leve para manha do dia 24 e assim então façamos uma recapitulação. Ele acordou e calçou suas pantufas levemente umedecidas pelo sereno que entrou no quarto pela a janela durante a noite. Fez a refeição matinal e se preparou para ir ao trabalho, ah sim, ele tinha de trabalhar na véspera do feriado. Desmotivado e totalmente esgotado.
Trabalhava em uma repartição jurídica
junto de seu vizinho o Sr. Júlio, que à priori era um excelente jurista e amigo
também. Enfim, foi à caminho do trabalho que ele passou por algo que ele
preferiu não ter passado. Uma cigana, sentada na calçada se levantou e em
direção á ele caminhou, chegando perto ela lhe ofereceu uma leitura de mão
gratuita, ele que não quis ser rude com a moça aceitou. Algo sobre reanimação
de um corpo e sobre um hospício, nada que faria sentido. “Ciganos” pensou ele, ”todos
iguais”. Norberto estremeceu por algum motivo e tirou sua mão quando isso aconteceu. Partiu então
para o escritório com certa aversão e repulsa pelo que havia acontecido. Estava
abalado internamente e mentalmente cansado.
Chegando lá, cumprimentou a todos
e começou a carimbar a papelada em cima de sua mesa. Era incrível a quantidade
de papel, mesmo assim ele carimbava um por um. Clamaria à Deus se acreditasse
que suas obras pudessem ser reais. Mas não tinha a opção de acreditar. Clamaria
à Marx se acreditasse que suas obras pudessem ser reais. Mas como não tinha a o
opção de acreditar. Não via expectativa de mudança de vida, ou progresso, pelo
contrario, sentia-se com um péssimo astral.
“Mais um dia concluído nessa porra”,
ele pensa. Sai do trabalho e parte rumo à sua casa. À umas duas quadras
distantes de sua casa ele observa um sujeito o seguindo. Ele acha estranho mas
não para de andar para verificar, o sujeito se aproxima e tromba com Norberto.
Norberto pediu desculpas e continuou o seu trajeto.
Ao chegar em casa, ele vasculha
os bolsos à procura da chave e da falta de sua carteira. “Aquele sujeito”,
pensou ele “o ladrãozinho deve ter levado”. Frustrado, pegou a chave, abriu a
porta e entrou em casa. Uma angustia subiu em seu peito ao lembrar que a foto
de Emily estava na carteira. Como pudera esquecer deste fato. Por Deus.
Lágrimas brotaram de seu rosto ao lembrar da pequenina. Foi para a cama cedo e
se agarrou ao porta retrato onde a foto costumava ficar, lar ainda estava
escrito, “para papai, com amor!”
Chorou a Noite inteira, e acordou
com olheiras enormes. Pensou a noite toda sobre uma solução. É claro que a
depressão de um individuo em um meio onde filosofias de vidas e ideologias são liquefatas,
será negligenciada e possivelmente acentuada. Ele sempre ouvira que o suicídio
era o caminho de covardes, e ele se sentia extremamente covarde.
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