Gato Preto


Autor:Pedro Emmanuel

Vitor saiu as quatro da madruga, desceu o morro, passou pelo antigo ônibus que um dia estivera em chamas e hoje só resta-lhe os cacos e restos, atravessou a pequena ponte e se dirigiu ao terminal, daria umas duas horas de viagem até lá. E como sempre colocava seus fones de ouvidos e escutava alguns raps.

Durante a trajetória viu uma cena incomum; um gato preto, esquelético arregaçando um velho maço de cigarros Dr. Frank. Provavelmente o animal estava atrás de comida. Mas que teria a ver cigarros com comida, pensou Vitor. Cigarros são intragáveis de tão asquerosos. Isso lhe fazia lembrar de seu pai. Memórias fragmentadas de um cara, fumando. O gato começou a brincar com a caixa até encontrar algo comestível dentro. Que estranho algo dizia ao Vitor para chutar a caixa para longe e livrar o bicho. Intuição.

Chegou ao terminal e esperou trinta minutos pelo ônibus. O motorista era sempre o mesmo cara, goro e com um bigode imenso:

- Bom dia, senhor!

Mas sem respostas do cara. Mal encarado ele estava. Sentou no fundo  do ônibus, já sabia oque aconteceria. Julgamentos e mal olhares para cima de mim, como sempre, pensou Vitor.

O ônibus foi enchendo e foi chegando cada vez mais próximo do destino do garoto. O Rap rolava em sua cabeça. Cenas se misturavam enquanto ele descia do ônibus. Pensou finalmente, não existe amor em SP.

Mais meia hora de trajeto a pé pelo centro. Trabalhava em uma loja de calçados, mas hoje ia lá para acertar as contas. Tinha sido demitido. Seu chefe, um cara gordo. Porque será que essas figuras se repetem? pensou ele. Chegou à loja. Tirou suas coisas do armário e foi embora. Sem mais nem menos, não falou com ninguém. Todos falsos. Todos. Não existe amor em SP.

Saiu da loja, pôs sem direção ao ponto. Chegou o ônibus e ele subiu. Havia uma menina linda, linda demais. Mais sem coragem Vitor não fez nada. Ficou quieto em seu. Chegou a seu destino final.

Alguns minutos caminhando pela rua se se deparou com o mesmo gato, estirado, magro e morto perto do velho maço Dr. Frank. Vitor ficou abalado.



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