Relatos de uma pós-fuga


Duas da tarde, estou com fome depois do que aconteceu hoje de manhã. As ruas estão silenciosas o único ruído é o do vento gélido batendo nas janelas dos prédios igualmente frios.

 Abro um maço de Dr. Fank, bato na bundinha da caixa e descolo um cigarro. Acendo e relaxo. A tensão passou. Tentando esquecer o que houve desço a alameda das Oliveiras normalmente, tentando não dar pinta de suspeito. Minhas mãos latejam.

Uma senhora puxando um carrinho de compras, provavelmente saindo da feria, gritou

- Fugiu da clinica, esse rapaz- será que ela viu a fuga? Tanto faz, comecei a correr, mesmo não aguentando minhas pernas.

Fugi da clinica ás onze e cinquenta e nove, e ainda estou correndo ela alameda; duas semanas para planejar a fuga, e duas  semanas para sua execução. Minhas mãos sangram; doem e ainda latejam. Preciso anestesia-las.

Eufórico e correndo ás cegas entro em um pequeno bar; rustico com detalhes em madeiras nacionais, olho para o barman e digo

-uísque... por favor!

Ele puxou uma garrafa de Jack, junto a um copo:

- uma dose?

- Deixe a garrafa

Peguei a garrafa, tomei um gole e o resto joguei nas feridas,  no começo ardeu; o interessante é que eu estava gostando; um sádico sentimento de alivio. Consegui, pensei

- Você fugiu da clinica São Tadeu, filho.

- Não, fugi de um manicômio; só tinha doido lá – concluí.


Em lembranças à Hector Gustavo, um grande amigo!

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