Girassóis



Capitulo 1

Na grande São Paulo dos anos oitenta, no consultório psiquiátrico Seu Dia Feliz, especializado em  eletroconvulsoterapia, uma sessão estava prestes a ser realizada. Uma moça branca de cabelos curtos escuros e encaracolados entrava no consultório do Doutor Edgar.
- Bom dia, Victória!
- Bom dia Doutor - respondia de maneira apática.
- Como tem passado esses últimos quinze dias?
- E as medicações?
- sim, estou tomando-as
- Bom... na verdade passei bem.
- Então, podemos começar nosso tratamento?
- Sim, sem problemas.
Victória tirou a pasta que carregava consigo, pôs à um canto e sentou na maca:
- Doutor, não fui sincera com você. Tive um surto semana passada.
- Não tem problema, eles acontecem, mas são neles que percebemos nossas forças internas e criamos coragem para seguir em frente - disse de forma gentil - agora deite na maca por favor.                   
A moça deitou e tentou relaxar, enquanto o médico a amarrava e colocava  um mordente em sua boca.
- Vamos começar, vai doer só um pouquinho.

 

Capitulo 2

O consultório Seu Dia Feliz, era insipido, limpo e branco domo um marfim. Uma sala de espera, com meia dúzias de poltronas e uma recepção com balcão de tampo de vidro. Alguns pacientes abusavam da hospitalidade, e fumavam seus cigarros na sala de espera. Victória chegava e se sentava, amuada. Abria sua pasta e olhava o conteúdo. Um maço de Dr. Frank alguns trocados e um livro. Os sofrimentos do jovem Werter.
-Vai usar esse cinzeiro?
Um homem perguntava toda vez, e como toda vez ela respondia:
- Não, fique à vontade.
Quando saia, ainda zonza pelos choques, atravessava a rua e tomava um café na Padaria Santa Tereza. Sentava-se como livro em mãos e lia-o. o café  da
Santa Tereza era o melhor da cidade. Vinha com creme em cima e quando o bebia sentia-se estalar no céu da boca.

 

Capitulo 3

Nove horas da manhã Victória necessitava estar no trabalho. Trabalhava na Floricultura da Dona Cida. Limpava o balcão, as prateleiras e sempre dona Cida falava:
- Não se esqueça de limpar as rosas
E sempre ela respondia
- Sim Dona Cida, pode deixar.
Arranjos florais, molhava as plantas, fazia buquês, trocava os vasos e muitas outras atividades chatissimas. A parte mais divertida era limpar e arrumar os girassóis. Ela os adorava. O jeito como eles se revelavam para a luz dia era incrível. Sempre dizia o céu seria forrado de girassóis esplendecentes.
Alguns clientes passavam pela loja, ala os atendia e voltava ao serviço. Onze e meia era o fim de seu expediente. Tirava o maço de cigarros baratos da pasta e ia para fora esperar um taxi.
Lá estava ela, a figura loura, de cabelos enrolados e curtos. O batom vermelho se destacava no rosto. Trajava preto e um charmoso chapeuzinho coco. Do outro lado da rua. Apenas parada. Victória já a vira antes, piscou os olhos e a figura sumiu. Victória sempre a vira no mesmo lugar, quase todos os dias.
Acendeu um cigarros e relaxou. Pensou em coisas. Coisas que deveria ter feito durante os trinta dias passados. Sua medicação. Há trinta dias ela não tomava e mentia para o doutor. Tentava esquecer, tragava com força cigarro, tossia e sempre alguém aleatório na rua lhe perguntava:
 - Está tudo bem, moça?
E ela sempre respondia:
- Está sim, obrigada

Capitulo 4

A moça deitou e tentou relaxar, enquanto o medico a amarrava e colocava  um mordente em sua boca.
- Vamos começar, vai doer só um pouquinho.
E de repente Victória acordou em um campo de girassóis. Seu sorriso foi de orelha a orelha.

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